25 de mar. de 2010

Professor é a primeira referência

Profundamente envolvido com meu trabalho, não deixo de pensar na minha profissão hoje em dia. E refletir sobre ela é pensar, acima de tudo, na realidade dos meus alunos: suas referências, seu presente e seu futuro.

Dispensável é comentar a importância de um professor na vida de um jovem (é chover no molhado). Mas o professor não é só professor. É, antes disso, um ser humano que fez opções, tem história. E sua história é a de quem optou pelo conhecimento: obtê-lo, desenvolvê-lo e ajudar outros a fazerem o mesmo.

Na escola pública o professor é a primeira referência da maioria dos alunos que, em seu cotidiano, conhecem poucas pessoas que fizeram curso superior. Portanto, quando o professor diz para um aluno "VOCÊ PRECISA ESTUDAR" e arremata "SÓ COM O ESTUDO VOCÊ TERÁ UM BOM FUTURO", o aluno olha para ele e pensa. Mas se ele não vê no professor (sua referência de alguém que estudou) um exemplo de êxito profissional, o discurso do professor se esvazia e o aluno passa a desacreditar em suas palavras. Daí a falta de perspectiva, a violência, o desespero que é geral.

É uma questão simbólica. O professor não ensina apenas com sua voz e giz na mão. Ensina em silêncio, através da imagem que representa. E se sua imagem atualmente representa o fracasso (mesmo o concursado), o aluno conclui que seus anos de estudo não valem de nada e, logo, que "não vale à pena estudar".

Se a mídia, que tanto noticia desvios orçamentários, reclama a corrupção e deplora a desinformação do país é sincera, ela precisa estar do nosso lado, e não contra nós, como alguns jornais tem efetivamente se posicionado. É o momento de dar uma virada na história. É preciso nos dar voz e valor. Só assim teremos condições, em primeiro lugar, de continuar a estudar, para, só depois, ensinar.

Nós, professores, não temos conseguido pagar com a mínima tranqüilidade nossa vida cotidiana, criar nossos filhos. Temos uma vida precária. Como já foi dito e repetido, precisamos dar aula em várias redes de ensino ao mesmo tempo, ocupando nossa vida com jornadas de 50, 70, 90 horas por semana com aulas, preparação de provas e correções de 500, 700, 800, 1.000 avaliações individuais escritas mensalmente para termos o mínimo de condições de sobreviver. Isso precisa mudar. Esse ritmo de trabalho funciona como uma espécie de britadeira que destrói o cérebro de qualquer um. Daí que jovens brilhantes ao entrar na profissão, depois de 10 anos de magistério tornem-se embrutecidos. É um contra-senso cobrar mérito se você não dá condições para o professor se preparar. É esquizofrenia pura! Além do mais, os princípios do mérito cobrado estão equivocados.

Há critica para o nosso sindicato. Mas não percebe que NÃO SOMOS MANIPULADOS POR ELE. Essa greve é NOSSA e NÃO DO SINDICATO. O sindicato é o nosso representante e nós é que fazemos ele entrar em greve. Desde que atuo no magistério, essa é a greve mais lúcida dirigida por ele, pois tocou na questão central de nossa vida: aumento salarial. Por que afirmo isso? Por que o dinheiro no nosso bolso, além de aliviar nosso desespero, será nosso maior argumento junto aos alunos para convencê-los a estudar. O aumento salarial será o preenchimento de nosso discurso em sala de aula. Será nossa arma contra a violência na escola e na sociedade, enfim, contra a falta de referência do aluno.

Em suma, a vida do professor precisa ser a concretização do discurso veiculado por todos que chamam a atenção para a importância dos estudos. Precisamos ser referência para os alunos de que estudar é importante e vale à pena.

Greve, nesse momento, não é diversão, querer transtornar o trânsito ou provocar um fato qualquer para sair na mídia. É tentar provocar algum tipo de mudança. De mudança, para podermos construir um verdadeiro país.

Qualquer indignação com a educação como ela está nesse momento sem revolta com as CONDIÇÕES DE VIDA e de TRABALHO do professor, é falsa. É preciso refletir sobre isso. E agir.

Portanto, é por isso que estamos de greve, que é uma forma de ação para mudar este estado de coisas. Para que qualquer um de nós, professores, quando viermos a falar para nossos alunos estudarem para terem um futuro melhor, nos sintamos orgulhosos de nossa profissão e possamos citar a nós mesmos como exemplos para eles!!!

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Quem sou eu

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Sou paranaense de Ivaiporã e atualmente morando em Hortolândia desde 1991. Sou formado em matemática pela UNIVALE (PR), com especialização pela UNIG ( RJ ). Também sou formado em engenharia civil pela PUC - CAMPINAS ( PUCCAMP). Leciono atualmente na EE Prof. Euzébio A Rodrigues.Já lecionei em diversas escolas de Hortolândia-Sp e também em Sumaré - Sp. Nas escolas onde lecionei, fui representante de escola junto à APEOESP ( Sindicato dos professores ), além de ter sido também conselheiro regional. Defendo que a educação ( escola ) seja de qualidade e acessível para todos, onde tenhamos uma sociedade com cidadãos conscientes de que precisamos lutar por um mundo mais justo e com igualdade para todos. Esse é o verdadeiro papel da educação. Vamos à luta,pois sem nenhum esforço e dedicação, não conseguiremos atingir todos os nossos objetivos.
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